03 março 2006

Catatônico Informático ou Jonas e Gilda: Mais uma Triste História de Amor Interrompida

Todos se perguntavam: “Por quê?”.
Afinal de contas, Jonas era amado por todos, inclusive a própria sogra e até os vizinhos. Por que diabos isso foi acontecer com ele?
Futuro promissor, carreira ascendente, Jonas preparava-se para casar com Gilda, namorada havia tempos, mas que ele silenciosamente amou antes mesmo que ela notasse sua existência.
Jonas dera entrada em casa própria, possuía economias, já tinha recebido até oferta de trabalho no estrangeiro! Ficou, claro, por conta de sua amada Gilda.
Não chegava a ser filósofo, nem era muito conversador, mas quando se tratava de internet, não havia limites!
Jonas era da geração pós Revolução da Informação, da civilização plugada, aldeia global, conectada em sítios e não em canais de TV. Ganhara de presente seu primeiro computador aos 3 anos de idade. Trocava todo ano, claro, para não ficar obsoleto. Jonas cresceu no ciberdélico mundo da internet, em meio aos chats, conferências, sítios diversos, jogos, emuladores, simuladores. Curioso e auto-didata, se metia em tudo, aprendia, participava.
Aos 6 anos já era hacker. Aos 7 já trabalhava na IBM, programador e hacker “do bem”.
Com 9 anos Jonas já era diplomado analista de sistemas e programador sênior, gerenciava os sistemas dos oito maiores bancos brasileiros (que na verdade pertenciam a uma mesma holding internacional) e ocasionalmente fazia freelancer para o governo nacional.
Todos os ventos indicavam Jonas como herói nacional, não fosse aquela infeliz idéia do senhor Ministro não-lembro-o-nome da Informação e Sistemas, que decretou o tal “Feriado da Rede”, que ele clamava como “pelo menos um Domingo de verdade no ano”. Oras, o sujeito não podia Ter sido menos insensível nem mais arrogante!
O país afundou em depressão naquele Domingo. Os próprios psicanalistas e terapeutas não sabiam àonde recorrer, sem os chats e fóruns de discussão da Rede. Pessoas nas ruas eram vistas com tiques nervosos nas mãos e nos olhos, como se movessem um mouse invisível em uma tela inexistente.
Jonas não resistiu. Morreu de um mal comum nos países desenvolvidos: inanição de informação. Sem a conexão, Jonas tentou o jornal, a TV, o rádio, tudo junto até, mas não foi suficiente. De acordo com o depoimento de Gilda, pouco antes de ficar permanentemente catatônico, Jonas socava as paredes do apartamento: “Janelas, preciso de janelas!!!”, clamava desesperadamente o bom moço.
Faleceu aos 10 anos de idade. Pobre homem, futuro tão promissor, um verdadeiro vencedor, enfim, um modelo.

Julho de 2000

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