05 março 2006

Quinze Minutos

Mantenho meu relógio 15 minutos adiantado. É curioso... todos me dizem, insistem, afirmam, gritam, suplicam, esperneiam que, ingênuo de minha parte, apenas tendo consciência dos tais quinze minutos, eu imediatamente consertaria os ponteiros na minha imaginação e no fim das contas não faria a menor diferença.

Eu insisto! Manifesto que não obstante à consciência, existe qualquer coisa mítica por detrás dos ponteiros-quase-chegando-no-horário, algo de pressão naquela impressão visual de estar constantemente atrasado, que me mobiliza. O que será?

Talvez seja o velho costume adquirido na puberdade colegial de deixar para a última hora a lição de casa, ou estudar na véspera da prova. Talvez seja o trauma vestibulando de despender um ano inteiro estudando neurótico para a prova e, portões fechados, atrasado justamente quinze minutos, atrasar um ano mais naquela agonia. Certa feita cheguei atrasado até mesmo na minha própria festa de aniversário surpresa e metade das pessoas havia ido embora.

O fato é que estou sempre tentando me enganar, anotando na agenda a prova um dia antes, falando o horário mais cedo para minha mãe, minha mulher ou a secretária me apressarem, e, finalmente, adiantando o relógio, acreditando tanto nessa pequena mentira e acabo por consertar minha vida. Nada mais de chegar atrasado no médico, perder sessão de cinema ou teatro, multas de zona azul, esse tipo de coisa.

Em meio ao êxtase de haver conseguido improvisar minha pontualidade britânica, topei com a triste realidade de que não me adiantaria nada ao lembrar o quão inútil era ser pontual, pois os outros compromissados falhavam em cumprir sua parte: o médico atrasava, o espetáculo não começava no horário, o parceiro de reunião estava preso no trânsito... Me perguntei qual era o problema e a resposta é simples: Acontece que moro no Brasil.

Agosto de 2001

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